“Uma nova Mulher” é uma série turca da Netflix que vem conquistando os assinantes. A produção gira em torno de três amigas íntimas: Ada, Leyla e Sevgi, que decidem ir para uma cidade do litoral, e viver uma experiência espiritual. No entanto, apesar de toda a trama se desenvolver a partir dessas três mulheres, os personagens masculinos da série chamam também bastante atenção em alguns aspectos.
O médico e terapeuta de constelação familiar, Andrei Moreira – que comenta a série na visão sistêmica em seu canal no YouTube – falou que à partir dos personagens homens – muito interessantes – algumas questões sistêmicas são apresentadas. Andrei citou que os personagens: Zaman, o terapeuta; Toprak, o primeiro amor da Ada; Selim o atual marido da Ada; e Fiko, que se torna o marido da Sevgi, apresentam emaranhamentos particulares com seus sistemas de origem.
Análise sistêmica do personagem Toprak
Segundo Andrei, Toprak é o personagem masculino que mais tem evidência na primeira temporada. “Primeiro por ser o primeiro amor da personagem Ada e por ter se afastado dela dez anos atrás, no contexto de tê-la abandonado e ter gerado uma grande mágoa. Isso acabou gerando um dos principais motes emocionais da série na relação entre esses dois personagens.”
Andrei continuou: “Toprak é um homem que era um músico dez anos atrás quando conheceu a cirurgiã Ada. Eles se apaixonaram, mas ele sempre demonstrou comportamento irresponsável se observado em relação às questões práticas da vida. Ele era um pouco dependente financeiramente da namorada, tinha um comportamento promíscuo e acabou por magoar profundamente a Ada quando a traiu e em seguida se mudou para o exterior”, explicou.
A série mostra que depois de anos eles se reencontram em uma das sessões do terapeuta Zarman, naquilo que é chamado na série de “Expansão da Família de Origem” (muito semelhante à constelação familiar) e à partir dali eles vão, então, ressignificar a sua relação.
“Tropak viu o avô ser preso e enforcado mesmo sendo inocente. Caso que mudou o destino de toda sua família. Ele, enquanto neto, tinha um vínculo de amor cego muito forte com o avô e, por lealdade invisível (que nos leva a repetir o destino de antepassados inconscientemente) também se colocava aprisionado na vida na incapacidade de estabelecer vínculos de amor profundo”, disse.
Segundo o médico, esse é um caso comum que pode ser percebido na maioria das pessoas, na vida real. “A forma como nós vivemos nossos relacionamentos afetivos está diretamente vinculada aos vínculos sistêmicos que nós trazemos com nossos pais, nossos avós, com aqueles que vieram antes e suas vivências. Estar livre ou não para fluir no amor a dois depende de estar inteiro no seu lugar na ordem familiar, de tomar a força daqueles que vieram antes através da conexão de valor e de respeito com suas histórias e destinos de amor e dor”, disse.
Diante disso, Andrei explicou que o personagem vai fazer um movimento curativo ao longo da série de integrar em si, respeitosamente, o masculino da família. “À partir dessa conexão com os homens da sua família ele vai tentar se encontrar de uma maneira que passa a sentir a grandeza do seu próprio lugar de homem na vida”, afirmou.
O caso pode ser entendido à partir da perspectiva da filosofia da constelação familiar: “um homem se torna homem através da conexão de honra com os homens do seu sistema. Uma mulher se torna mulher através da conexão respeitosa com as mulheres do seu sistema. E, integrados na sua fonte e livres para viver sua própria masculinidade e feminilidade, o homem e a mulher se complementam dentro de uma relação heterossexual assim como o homem com o homem na relação homossexual ou a mulher com a mulher na relação homossexual”pontuou.
Andrei também afirmou que o personagem vai, ao longo da série, reintegrando-se com os homens da sua família e vai se libertando para viver sua masculinidade de uma forma madura e livre que lhe permita estabelecer uma nova vinculação profunda e respeitosa com as mulheres.
Sobre Andrei Moreira
Médico especializado em Homeopatia e terapeuta de constelação familiar formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Especializado em Homeopatia, Andrei Moreira é diretor voluntário da ONG Fraternidade sem Fronteiras. Membro da diretoria da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais (AMEMG), da qual foi presidente de 2007 a 2019. Preceptor do Internato em Atenção Integral à Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Alfenas, campus Belo Horizonte, no período de 2008 a 2012.
Autor de livros como “Atitude – reflexões e posturas que trazem paz”; “Cura e autocura: uma visão médico espírita” e “Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal”.